sexta-feira, 4 de julho de 2014

A BELEZA em O Braço Esquerdo de Deus: "...o seu corpo, rechonchudo ao ponto de ser anafado, exprimia em carne e osso a generosidade e conforto do seu coração."



Eis um facto: Este mundo não é para gordas. Alguém já viu uma barbie gorda? Alguém já viu uma princesa disney gorda? Alguém já viu uma personagem principal gorda em algum filme que não fosse comédia? Não respondam. 





Há pouco tempo terminei a trilogia O BRAÇO ESQUERDO DE DEUS. As personagens femininas são todas gordas, voluptuosas e cheias de curvas e todos as acham lindas. 

Quando o Cale vai à casa de prazeres da Ruby ele não quer nenhuma das prostitutas que vê e acaba por ficar com a Ruby que, segundo ela própria, parece uma tartaruga. "A sua barriga era gorda(...) era redonda e macia como uma almofada e tremia quando ele lhe tocava, como um dos cremes doces nos banquetes dos Materazzi. Ela era toda curvas e pregas..."

E sobre Artemísia? Ela tinha pouco mais de metro e meio mas a sua inteligência não passou ao lado do protagonista. Nem o seu interesse em tudo o que fosse militar. "...mas, à tarde, colocava-as em grandes falanges efeminadas de rosa e azul celeste e tentava perceber a melhor forma de as chacinar. Soldados com saiotes roxos lutavam até à morte com outros de toucas lilases, montadas em novelos de lã e exibindo ceroulas azuis-bebé."


Arbell Matterazi
Riba

A Riba passa de "quase escrava" a "Imperatriz da Rússia" em grande parte devido à sua beleza e é extremamente gorda. Todas as Materazzi são gordas (incluindo a Arbell) e todos as consideram LINDAS. O próprio Kleist não gosta como a Daisy fica depois de emagrecer alguns quilos. Então, qual não é a minha surpresa ao encontrar alguns FanArts onde todas estas personagens são representadas magrinhas? 



"Riba era uma rapariga bonita, embora invulgarmente gorducha(...)O que fez com que Riba chamasse a atenção de muitos homens na cidade foi o facto de ela ser bondosa, simpática e inteligente, mas também porque o seu corpo, rechonchudo ao ponto de ser anafado, exprimia em carne e osso a generosidade e conforto do seu coração."

Como é que é possível? Como o trio do livro rapidamente diria: "Ninguém gosta de nós... mas não queremos saber." (Esta frase é dita centenas de vezes ao longo dos três livros.) Mas será que não queremos mesmo? Porque eu quero.

Neste mundo (mundo cão acreditem) há de tudo: há pessoas com deficiências mentais e pessoas com deficiências físicas... há pessoas que morrem de fome... há pessoas cegas,
há pessoas surdo-mudas e há pessoas cegas surdo-mudas... há pessoas que não andam... há crianças soldados, há crianças que são vendidas, há crianças obrigadas a casar com nove e dez anos, há crianças que nunca terão um futuro...
E depois há os gordos. Que só têm uns quantos quilos a mais. 

Voltando a citar a trilogia: «Pensemos numa pessoa jovem e saudável, com todos os músculos e tendões fortes e flexíveis. Excepto uma coisa... tem uma dor de dentes. Achas que ele se regozija com a sua força e retira prazer da avassaladora maravilha que é o seu corpo jovem, apesar de uma pequena fracção do mesmo lhe estar a doer? Não, claro que não. Só consegue pensar na dor de dentes terrível. »

Quanto a mim... cansei. Estou farta e incomoda-me muito que o mundo esteja assim. Talvez estejamos todos a necessitar de um intensivo ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA!

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