segunda-feira, 2 de setembro de 2013

RESENHAS: "O TCHEKISTA" de Vladímir Zazúrbrin

"E ei-la que sacode a sua camisa, livra a camisa e o seu corpo dos piolhos, dos vermes e dos outros parasitas - muitos se lhe colaram - para as caves, para as caves. E portanto nós devemos, e eu devo, devo, devo esmagá - los, esmagá - los, esmagá - los."



~ Vladímir Zazúbrin~


Título: O Tchekista
Autor: Vladímir Zazúrbrin
Editora: Antígona
Data de Edição: Outubro de 2012 
Outras Obras do Mesmo Autor:  Os Dois Mundos; As Montanhas


Como Chegou Até Mim?
Eu costumo me abastecer de livros na Feira do Livro em Vila Nova de Mil Fontes (entre Julho e Agosto). Eles são baratos. Estes foi um dos primeiros que comprei durante a semana que lá passei e o único que li durante a estadia. Escolhi - o por ser de um livro terrivelmente russo.  

Resumidamente...



O livro relata um pouco da vida de Srúbov, presidente da Tcheka providencial. A aniquilação repugna - o e o matadouro sangrento em que se move assola - o sem lhe dar tréguas. «O vivo sente - se mal à beira de uma sepultura. Ela é alheia. Mas está debaixo dos seus pés.»
Depois das execuções em caves embebeda - se. Tenta esquecer. Lava - se mas continua a sentir - se sujo. É abandonado pela própria mulher que não ama e pelo filho. Vê o seu pai morto pela Tcheka e senta - se à mesa com o assassino, bebendo chá. E assim vai construindo o edifício da felicidade humana sobre milhões de torturados, fuzilados, aniquilados... Destruindo as pessoas capazes de resistir à violência e à mentira, deixando lugar a uma raça de conformistas extenuados... Acaba enlouquecendo e sendo vitima da sua própria justiça.



Vladímir Zazúbrin(1895-1938)
Escritor siberiano, esteve desde cedo ligado à oposição ao regime czarista, dirigindo semanários políticos de província e difundindo panfletos políticos, a coberto de profissões burocráticas, um disfarce para actividades revolucionárias. Foi um dos mentores da União Siberiana de Escritores, tendo sido preso e fuzilado no auge da repressão estalinista.

  
I Say...
Se procuram uma história, daquelas com principio, meio e fim, um herói e um vilão e daquelas em que a seu tempo todas as perguntas ganham uma resposta é melhor passarem ao próximo livro.
A meu ver, este livro deixa muitas perguntas sem resposta, muitos assuntos em aberto, muitas coisas por resolver.
Logo no inicio temos um prefácio injustificavelmente longo. Pensei em desistir do livro antes mesmo de chegar ao primeiro capitulo! Ele é bem organizado e chega a ter alguns pontos bem apresentados. Ainda assim, a biografia do autor embutida no meio é desnecessária (tendo em conta que o livro possui no final "Notas Biográficas"). Outros tipos de informações contidas também o são. Penso que o segundo prefácio (sim, o livro possui dois prefácios!) é mais simples e menos entediante.
Quanto ao livro, os relatos são impressionantes, a forma como ao longo do tempo Srúbov deixa de observar as pessoas com os seus sonhos e sentimentos e passa a vê - las como "cabeças de alfinetes" é quase assustadora. É chocante como Ela (a revolução) lhe suga os melhores anos de vida, aliás a vida toda e depois indigente, privado de tudo, rejeitou - o. «Ela é pobre, e por isso é cruel.» 
Ao longo do livro, há também várias interrupções na narrativa para sonhos, pensamentos e considerações. Srúbov admite «eu sem "filosofia" não dou um passo...»
É um bom livro, apesar de eu não apreciar muito o género ou o estilo. Digamos que enquanto o li só reclamei. Reclamei até à última página. Mas vale a pena ler, nem que seja para chegar ao final. 

Frases
«Porque ser livre significa, antes de mais, não ter medo. Porque eu ainda não sou inteiramente livre. Mas não é culpa minha.»
Vladímir Zazúbrin

«Talvez se possa ainda restaurar as igrejas e os palácios (destruídos), replantar as florestas, purificar os rios, mas não se pode restaurar o fundo genético do povo que foi destruído. (...) Ninguém restituirá nunca ao povo o seu fundo genético desaparecido, enterrado nas fossas cavadas à pressa, cheias de lama, onde se lançaram dezenas de milhões de russos, os melhores que foi possível escolher, produtos da seleção genética.»
Dimitri Savitski (autor do primeiro prefácio)


NOTA: 7/10   

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